Já passava de meia-noite quando Virgínia resolveu chutar suas cobertas para o lado, sair do seu dormitório e ir passear pelos jardins da escola. O dia tinha sido vazio e cada mísero detalhe tedioso ficara marcado na sua mente à ferro. Todos os dias sempre a mesma coisa, todas as semanas nunca nada de novo acontecia, os meses eram tão iguais que ela se perguntava como já era agosto se nem se lembrava de ter passado por julho. Até essa insônia que a perturbava ultimamente sem motivo não mudava.

Como já estava acostumada a fazer o mesmo caminho tantas noites, seus pés a levaram diretamente pelos corredores mais seguros (para evitar esbarrar no terrível zelador). Para cobrir seu pijama, usava um casaco escuro e comprido, que balançava suavemente enquanto andava e se agarrava a um pequeno caderno e uma caneta.

Parou apenas quando finalmente se viu do lado de fora do castelo. O vento brincou com seus longos e ondulados cabelos ruivos, jogando-os para trás enquanto ela inspirava profundamente o ar fresco da noite e um sorriso satisfeito brincou em seus lábios finos.

- Olá. Sentiram minha falta ? - disse ela olhando para cima - Eu senti saudade de vocês. Aliás, estão especialmente lindas hoje.

Piscou com ternura para os pontinhos que brilhavam no céu negro e se dirigiu à sua árvore favorita, uma macieira alta e cheia de frutos que ficava perto do lago, olhando atentamente sua copa. Era sua noite de sorte.

Deixou o caderno e a caneta junto ao tronco e se posicionou estratégicamente embaixo de uma maçã muito vermelha. Precisou de três pulos esforçados até conseguir alcançar seu alvo, mas a dificuldade só a deixou mais orgulhosa de si mesma. Sentou, ajeitou o pequeno caderno sobre as pernas dobradas, deu uma mordida na maçã e começou a escrever absorta em pensamentos, sem nem ao menos perceber o par de olhos que a observava de longe.

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